É o seguinte: cada semana irei publicar um capítulo do livro que fiz. Essa ideia foi originada pela minha irmã, Dany, que ama a literatura assim como eu!
Então vamos lá!
Prólogo:
Sabe, às vezes a gente não dá valor ao que tem. Só se importa com o que não tem ou com o que gostaria de ter. Tenho certeza de que todos que já passaram por isso se arrependeram, assim como eu. Mas para os outros que ainda não tiveram essa experiência, quero que saibam que não existem bens materias que nos façam sorrir mais do que a nossa família.
1° capítulo:
Tenho três irmãs: Sophie, Marrie e Charlotte. Charlotte é a minha irmã mais velha, e as outras são as minhas irmãs mais novas e, detalhe, gêmeas.
Meus pais brigam toda noite. Enquanto rola a discussão, eu e minhas irmãs, menos Charlotte, ficamos brincando (ou fazendo outras coisas) no meu quarto. Nós brincamos, eu leio livros para elas, pois ainda não sabem ler, inventamos histórias (de preferência de terror), montamos uma barraca no meio do quarto e fingimos que estamos em um acampamento. Raramente assistimos TV.
Charlotte não é dessas pessoas de brincar. Ela diz que tem 12 anos, ou seja, não é mais uma criança.
A questão é que não aguentamos mais minha mãe e meu pai brigando por coisas bobas, tipo meu pai deixando a toalha molhada em cima da cama todo dia, o fato de ele não querer ajudar mamãe a preparar o jantar (coitado dele, né, mãe! Ele acabou de voltar do trabalho e só quer descansar) ou o aumento das compras nos últimos meses. Quando mamãe está triste com papai, ela faz compras para melhorar o astral. Não sei por que, mas sempre dá certo.
Meu nome é Julie e tenho 11 anos (pra Charlotte eu AINDA sou uma criança, mesmo tendo apenas um ano de diferença entre a gente). O nome da minha mãe é Lauren - um nome que não acho tão bonito, mas que ela gosta bastante-. Já o nome do meu pai é Richard. Esse sim, eu gosto! Acho esse um nome bem forte.
Eu e minha família moramos em Nova York, mas nossos avôs e avós vieram do Brasil. Eu tenho vontade de ir para lá, porém me apeguei muito a este lugar! Enfim, juntos moramos satisfeitos um com o outro e felizes... mais ou menos.
♥♥♥
Hoje foi, definitivamente, o pior dia da minha vida! Minhas irmãs, menos Charlotte, foram a uma festa do pijama na casa de uma amiga. Eu não estava a fim de fazer nada; naquele momento estava tudo tão chato. Mesmo não sendo a melhor opção de atividade para um sábado à noite, fiquei sozinha em meu quarto, encostada na porta, escutando meus pais tentarem entrar em um acordo.
Como a briga era a mesma de sempre, fiquei entediada. Foi aí que vi uma pequena bola de borracha debaixo de minha cama. Fazia tempos que tinha perdido aquela bola. Engatinhando, fui pegá-la e acabei me distraindo um pouco.
Em seguida, ouvi um silêncio. Silêncio total. Que milagre naquela casa! Aquilo estava muito estranho, mas, para a minha sorte (ou azar?), minha irmã entrou no meu quarto para me explicar tudo. O problema é que ela estava CHORANDO. Acho que é a primeira vez que vejo seu rosto coberto de lágrimas desde os seus oito anos! Ela estava realmente desesperada, mas só depois entendi por quê.
-O que vamos fazer agora, meu Deus?
-O que aconteceu?- perguntei confusa.
-Você não ouviu? Nossos pais... - deu uma pausa e engoliu em seco - Vão se separar - mais choro. Depois ela foi andando lentamente até a minha cama de casal. Ela se deitou, fechou delicadamente os olhos e deu suspiro para se acalmar.
-É o quê?!- gritei.
-Fale baixo. Eles podem escutar - disse com um soluço atrás do outro- O que eu mais temia aconteceu.
-Como assim? Porque, na verdade, eu não ligava MUITO para a briga deles - eu disse tranquilamente, deitando na cama ao lado de Charlotte.
Tentava fazer o máximo possível para que ela não percebesse que eu estava chorando também, pois, nessas horas, eu tinha que dar apoio a ela, como ela sempre fez comigo.
-Mas eu sim... bastante.
Eu não conseguia ver meus pais separados, e não gostava nem um pouquinho de saber que eu não estava nem aí para as discussões deles. Que decepção! Decepção comigo mesma!
Ficamos lá, eu e ela, chorando desesperadamente (não consegui esconder meu choro por muito tempo) em cima da cama.
Naquele momento, foi como se passasse um filme na minha cabeça. Vi a minha vida com a minha família. Vi a alegria dos meus pais no meu primeiro aniversário, os seus olhares suspeitos quando me deram a primeira boneca, o apoio deles quando comecei a andar de bicicleta, os sorrisos nas tardes de domingo, o incentivo quando comecei a ler, o carinho de todos os dias, os beijos e abraços que dávamos uns nos outros frequentemente. Tudo isso estava acabado, como se nada tivesse acontecido... como se essa alegria não tivesse existido.
Quando já estávamos um pouco mais calmas, ela me convidou para dormir no quarto dela. Aceitei, pois não queria dormir sozinha naquela noite tão triste e tão marcante para a minha família.
Logo depois, quando estávamos arrumando a cama para dormir, meu pai entrou no quarto. Disse que não tinha me achado no meu quarto e ficou preocupado. Após um longo suspiro, ele ia falar algo, mas foi interrompido pela minha irmã.
-Nós já sabemos de tudo, pai! Por que, meu Deus? Por que estão fazendo isso com a gente?!
-Ei! Isso é uma decisão minha e de sua mãe. Vocês não tem que se intrometer nisso. É coisa de adulto e que criança não pode ouvir.
-Nós não podemos ouvir?! Vocês gritam pro condomínio inteiro ouvir! E temos todo o direito de saber o que está acontecendo e ajudar vocês! - Charlotte berrou com toda a sua força para o meu pai.
-Ajudar? Não gosto que interfiram na vida dos adultos! - meu pai já estava perdendo a paciência.
Eu permaneci calada. Mas, mesmo assim, estava chorando. Eu estava sentada na cama, olhando para o chão, me sentindo triste e abandonada. Percebi que estava sendo muito difícil para o meu pai. Separar-se da esposa e depois ter uma discussão com sua filha no mesmo dia (quase no mesmo minuto) não é fácil.
-Nem eu, nem sua mãe queríamos que isso afetasse vocês! Mas o que está acontecendo é problema nosso, e vocês não têm nada a ver com isso! Simplesmente não deu certo, e vocês vão ter que entender isso...
-Papai, você vai embora? - enfim, olhei para a frente e pus pra fora a única pergunta que me interessava naquele momento.
Meu pai olhou pra baixo. Estava começando a ficar nervoso; então, eu encarei isso como um sim total.
-Pra sempre?! - vieram mais e mais lágrimas vindas do fundo do meu coração.
-Desculpe, mas... Preciso me afastar de sua mãe.
-Por favor, pai, fique! - eu disse, agarrando as pernas dele.
-Julie! Está agindo como uma criança, e nós dois sabemos que você não é uma, certo? - ele olhou pra mim, sério, e eu parei de chorarpor alguns instantes- Vou ficar fora por um tempo. Se eu e Lauren acharmos que desse jeito vai ser melhor, então, sim, eu vou embora. Mas vou continuar vindo aqui e vocês vão ficar comigo nos fins de semana. Vai ser melhor para todos. Vocês vã ver!
-Melhor pra todos?! Desde quando isso é melhor pra todos?!?!- Charlotte estava ainda mais triste e irritada.
-Charlotte... Por favor, estou te pedindo pra entender. Tenha um pouco de consideração, querida.
-Desculpe, pai. Mas não consigo ver vocês dois separados.
-Eu também não!- eu disse logo em seguida, na esperança de fazê-lo mudar de ideia.
Por mais que suplicássemos, meu pai não quis nem saber. Antes de sair, disse apenas:
-Foi bom enquanto durou... ou quase.
E se foi. Pegou as malas e se foi.
♥♥♥
Naquela noite, não consegui pregar meus olhos. Tentei todas as técnicas para dormir, mas, infelizmente, nenhuma delas funcionou. Fiquei pensando em como seria a minha vida daqui pra frente. Não consegui imaginar. Também fiquei pensando nos meus pais apaixonados por outras pessoas. Não consegui imaginar. E uma pergunta ecoou na minha cabeça: como meus pais vão contar à Marrie e à Sophie no dia seguinte? Não consegui imaginar.
Então, assim termina o primeiro capítulo de Caminhos das ilusões!
Beijos! :*
♥